domingo, 9 de novembro de 2008

o mito Farroupilha Em a Prole do Corvo....

Ensaio feito a partir do livro "A prole do Corvo" de Luiz Antonio de Assis Brasil.
Autoras: Karin e Kelly....


O mito n’A Prole do Corvo:
a desmitificação de um herói[1]


Karin Línea Muller
Kelly Barbosa[2]



Herói Nativo
Mas onde estão os gaúchos de outrora Estirpe brava do Rio Grande guapo - Que bom seria se na pampa agora Surgisse um novo general farrapo! Eu só queria um novo caudilho Que terminasse coma ambição e a fome E que mostrasse para os nossos filhos Que Deuses falsos não governam homens.
[3]

A canção de Fronteira e Darde mostra a carência que o gaúcho tem por heróis. Assis Brasil (1991)[4] retrata essa afirmação na obra A Prole do Corvo colocando-nos a questão como são os nossos heróis?
A literatura mitificou os personagens do Movimento Farroupilha, criando esteriótipos de coragem, dignidade, caráter, virilidade e justiça. Desde o personagem Capitão Rodrigo, esboçado por Érico Veríssimo em O Continente[5], idealizamos os farroupilhas. Essa personagem inaugurou o desenho do gaúcho com sua presença marcante, destacando-se na Literatura Brasileira. Um dos traços fundamentais de sua personalidade é a confiança dispensada ao Movimento Farroupilha.
Veríssimo (2005) faz uma mescla do ficcional com a história em que um dos cenários é a Guerra Farroupilha. A intersecção desses dois elementos acontece de forma madura, visto que o os personagens ficcionais são apenas inseridos no contexto histórico existente, não são criados fatos para que se analise a personalidade do Coronel Bento Gonçalves. No entanto percebemos-lo como o próprio Capitão Rodrigo ou até mais enaltecido, visto que o personagem de Veríssimo exaltava o líder revolucionário em seus incendiados discursos.
As narrativas que se utilizam de cenários históricos têm boa aceitação pelos leitores, porque o público vê retrado na literatura a construção de sua identidade e cultura. Os autores gaúchos conseguem fazê-lo bem, como a exemplo do já citado Érico Veríssimo e Assis Brasil. Contudo, Assis Brasil rompe com a tendência do autor d’O Continente quando retrata em sua obra, A Prole do Corvo, um farroupilha não preocupado com seus subordinados, expondo-os ao seu egoísmo, como na sua fala:


—— Tive de me sumir senão nem eu nem ninguém comia coisa alguma. Assim, em vez de cada um encher um buraco do dente com um pouco, dois forram o bucho, é uma questão de saber distribuir. (ASSIS, 1991, p. 51)


A obra de Brasil (1991), narra a história de Filhinho Paiva, que vive em Santa Flora e, que depois, vai para os campos de batalha. Brasil (1991) acompanha a trejetória dessa personagem, no entanto, o foco recai sobre o morticínio que acaba o ideal farroupilha. Devemos partir daí para conceber A Prole do Corvo.
O que podemos observar em outras situações que procuraram retratar a guerra na literatura não encontramos na obra de Brasil (1991). Há, nessa obra, a desmitificação dos anteriores gestos heróicos reservados aos combatentes bélicos. Pela personagem Cássio, Brasil (1991) nos representa isso. O farroupilha não tem ideais, adota tirania e, conseguinte —— como toda a revolução —— acaba derrotado. As personagens se corrompem e abrandam o idealismo originário do movimento para ter a sobrevivência como fim. Para Brasil (1991) os militantes se adulteram na guerra.


"Sabe como é, no inicio da revolução, pólvora não faltava, e brigar era até uma festa. Era um tempo bom, ele mais moço, e ainda tinha animo, no fim de uma pelaia, de procurar uma china, e passar uma noite inteira de regabofes. Mas agora acha bom que arrecade logo a adaga. É de muita precisão." (BRASIL, 1991, p. 60)


Esse comentário explana o determinismo que a guerra provocou. Brasil (1991) mostra que a guerra não enaltece, mas sim destrói e corrompe o íntimo. São mostradas, nessa obra, as atrocidades e barbáries da guerra e, principalmente, as devastadoras conseqüências a cada partícipe.
A partir de uma análise destas, podemos perceber, e assim relacionar, o título da obra. Como um corvo, pois, alimenta-se de uma carne derrotada e pútrida, a guerra se enaltece através também da morte. Portanto, a uma longa loca análise, Brasil (1991) critica o sistema bélico.
Enfim, não se pode falar da identidade gaúcha sem mencionar a sua audácia. No entanto, devemos ter, assim como Brasil (1991), o nosso herói de carne e osso e de fraquezas. A agressividade que toma Cássio no fim da guerra faz com que percebamos a violência da guerra, por isso não são de todo culpadas as personagens dela. Quem não partipa da guerra e vê apenas seu resultado positivo ou literário não entende a narração de Brasil (1991). Porém o escritor tem grande mérito nessa obra, pois é inequívoca as conseqüentes degradações humanas que não fazem heróis.
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[1] Ensaio apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina de Produção e Interpretação de Textos II em 2008/2.
[2] Acadêmicas do Curso de Letras das Faculdades Integradas de Taquara
[3] FRONTEIRA, Gaúcho da; DARDE, Vaine Herói Nativo. http://letras.terra.com.br/gaucho-da-fronteira/1196064/ > acesso em 1º nov. 2008.
[4] BRASIL, Luiz Antônio de Assis. A prole do Corvo. Porto Alegre: Movimento, ed. 5, 1991.
[5] VERISSIMO, Érico. O Continente. São Paulo: Companhia das Letras, v. I, 2005.,









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