Calma gente.... não eu não parei de ler o Carlos Moraes, aliás estou a todo vapor na leitura...é que dando uma arrumada lá na biblio eu vi o livro de contos do Sergio Faraco e lembrei que havia escrito um ensaio sobre esse mesmo livro "Contos Completos", pensei em colocar ele aqui para que vcs olhem...
Por favor não sejam muito críticos, pois é a primeira vez que escrevo um ensaio. Na verdade, fica aqui um protesto: As faculdades deveriam exigir muito mais esse tipo de traballho, pois as dúvidas são ENORMES!!!!!
Enquanto isso vou lendo o "Agora Deus vai te pegar lá fora" , que aliás está muito bom... depois vou contar melhor como acontece essa história.
Beijinhus*
KARIN LINEA MULLER
(
necamuller@gmail.com)
Literatura Brasileira IV
Professor: Demétrio Paz
Faculdades de Educação de Taquara
Junho de 2008.
O presente ensaio pretende através dos contos “Neste entardecer”,“Não chore, papai” e “Conto de Inverno”, do escritor Sergio Faraco, demonstrar as características literárias deste autor.
Sergio Faraco nasceu em Alegrete em 1940, ainda jovem mudou-se para Porto Alegre. Entre 1963 e 1965 morou na antiga URSS onde cursou Ciências Sociais.
Para se entender um pouco mais sobre as características desse autor vejamos o que é um conto e como ele se caracteriza.
O conto é a designação que se dá à forma narrativa de menos extensão. E uma narrativa linear que não se aprofunda no estudo da psicologia dos personagens.
Esse gênero literário é uma narrativa breve, contém um só assunto cujos detalhes são comprimidos e organizados. Para se caracterizar como conto, a narrativa deve ter tensão, ritmo, conflito, inicio, meio e fim.
Neste ambiente Sergio Faraco em 1974 aventurou-se. Este gênero faz com que o autor sinta-se mais à vontade tratando de temas diversos.
No conto “Neste entardecer”, que faz parte da coletânea Contos Completos da editora L&PM, retrata bem algumas das características deste autor, que neste conto observa-se um tempo mítico, como está explícito no trecho a seguir: “é tão estranho, eu chego, olho, fico com a impressão de que me perdi e estou voltando à casa errada. Da escada nem sinal, talvez aquele bronze ali tenha sido outrora o corrimão.”(Faraco, Sergio Contos Completos p:154)
O conto é uma narrativa saudosista; que através de lembranças de um tempo passado retomam certos acontecimentos, leia no trecho abaixo:
“Da janela hoje vem sem vidros ainda se avista o sítio até que desça para o rio, mas não se enxerga mais o rio.
O mato cobriu o sítio e até os caminhos que papai cruzava com às redes às costas e sua linha de traíras.”
Sergio Faraco neste conto demonstra uma preocupação com o passado, valoriza o tempo que passou e isso se comprova no trecho a seguir: “Não tu não tinhas passado.”
O conto termina como desenrolar de uma quase brutal realidade, e ao meu ver pode ser visto como um momento de aprender as leis da sobrevivência, de que tudo pode ser visto com o olhar do aprendizado.
“Não te desespera, eu te peço, nem tudo está perdido, sempre resta a esperança de que a gente encontre o caminho que leva ao reverso das coisas, e então, tudo mesmo comece de novo. Te garanto que nalgum lugar a vida continua. Me dá tua mão, passeia comigo pela casa. Os grilos estão cantando num ritornelo que vem desde o rio. Vem. Vou te mostrar como a casa ainda é bela neste entardecer.”
Sergio Fraco é um autor linear, seus contos possuem singularidade e fidelidade ao assunto. No conto “Não chore, papai”, o autor relata uma situação extremamente melancólica em um ambiente urbano. “Os raros automóveis pareciam sestear também à sombra de cinamomos, e nenhum vivente se expunha ao fogo das calçadas. A melancolia presente no conto está explicita, como mostra o trecho a seguir: :“As vezes passava chiando uma carroça e então alguém, podia pensar: como é triste a vida de um cavalo" Não diferente de sua característica principal, as lembranças da infância e como estas marcaram profundamente e que deu também título à narrativa, o trecho abaixo mostra isso claramente:
“Mas não chore, papai.
Quem menino, desafeito ao pó de sua cidade, sonhou com os Jardins da Babilônia e outras estampas do sabonete Eucalol não acha em seu coração lugar para o rancor. Eu jurei em falso. Eu perdoei você.”
Os contos do escritor gaúcho Sergio Faraco são de fácil compreensão, o leitor não encontra dificuldades ao fazê-lo, sua linguagem é simples e direta, como pode ser percebido no conto “Neste entardecer”: “Aquela sombra na parede parece Vovó Rosário procurando suas agulhas de tricô.”(Faraco, Sergio, Contos Completos, p: 154)
No conto “Conto de inverno”, que faz parte da coletânea de contos “Contos Completos” da Editora L&PM, o autor conta a história de um escritor que vive uma história de aventura e sensualidade. A história se passa em um ambiente urbano, como em muitos de seus contos, o que se comprova no trecho a seguir: “...da janela, viu um velho caminhão estacionado junto ao poste de luz, era dali que vinham batidas de porta, conversas, e ele ouviu também o choro de um bebê. O capô erguido e dois homens examinavam o motor com uma lanterna.” (Faraco, Sergio Contos Completos p:249)
Sergio Faraco como grande contista que é, explora seus personagens com muito sucesso, vê neles a amargura do submundo da cidade e da pobreza nela muitas vezes existente. “ _ mudança? – quis saber o escritor examinando a paupérrima mobília amontoada na carroceria.” (Faraco, Sergio, Contos Completos p: 249)
Ainda sobre essa mesma temática temos o trecho abaixo que comprova essa característica:
“_Não é longe _ e indicou um morro a poucos quilômetros dali.
_Esse morro é um labirinto de ruelas.
_A senhora conhece bem?
_Mais ou menos. Meu marido comprou uma casinha lá.”Sérgio Fraco utiliza uma temática gauchesca, e apesar de ser um conto urbano, dá algumas referências de que a história acontece aqui: “De onde vocês vem? _ Santa Rosa.” (Faraco, Sergio, Contos Completos p: 249)
Aqui, outro trecho que comprova essa característica do autor:
“Levantou-se, protegeu-se com o mesmo agasalho.
Antes de sair, pegou na parede da sala uma espada enferrujada que adquirira num Belchior, supostamente arrebatada de um oficial paraguaio na guerra contra López.”
Nota-se que o autor mostra um personagem solitário e que vê na situação uma oportunidade de sair desse estado:
“De volta ao quarto, tirou a japona e deitou-se. Ainda que se cobrisse com dois cobertores, tiritava de frio. Pôde cochilar decerto, ou só chegou, talvez, àquela consciência difusa que é o umbral do sono, mas estremeceu e sentou-se na cama ao ouvir novamente o choro do bebê.”
O autor desse conto, Sergio Faraco, utiliza-se da erotização como um dos focos principais de sua narrativa, o que comprova-se no trecho que se segue:
“Viu a mulher despir e oferecer à criança um formoso seio e constatou que uma ponta de desejo se insinuava no despreendimento do general paraguaio.Mas não apagou a luz. Na última sinaleira antes do acesso ao morro, olhou novamente, dizendo-se que o fazia para conferir se o seio realmente era bem-feito. Era.”
Na seqüência outro trecho que comprova a forte sexualidade existente neste conto: :“...mas o seio da mulher continuava exposto, com seu mamilo arroxeado e úmido. O escritor percebeu que ela estava fazendo aquilo por gosto.” (Faraco, Sergio, Contos Completos. p: 253)
Como já foi visto no início deste ensaio, o gênero textual “conto” tem como característica o inicio, meio, o clímax e o fim. O clímax desse conto acontece quase no seu final. Veja o trecho que se segue:
“Por momentos, o escritor permaneceu imóvel, mãos ao volante, como a esquadrinhar o falso abismo da ladeira. Depois voltou-se, passou a mão nos cabelos dela, no pescoço, no colo. Depois ainda, inclinando-se, tomou o seio, ergueu-o delicadamente o beijou. Mas logo se afastou.”
O conto “Conto de inverno”,termina com o personagem refletindo sobre o que havia acontecido naquele momento e de como se aproveitou daquela situação:
“Era espantoso como os escritores, ás vezes, podiam ser interesseiros, e no fundo, bem no fundo, tão ou mais cruéis do que um dono de caminhão como o que conhecera naquela madrugada.
Embora menos alegre, compreendeu que tinha encontrado também o fim da história.”
Através deste ensaio pode-se constatar então, que o autor Sergio Faraco, possui grande vocação para a produção de contos, mostrando ao seu leitor, que suas histórias jamais serão frutos do acaso, mas sim estruturas com uma visão de mundo real, coerente e delineada.
BIBLIOGRAFIA
FARACO, Sergio. Contos Completos , Editora: L&PM ,2004.